Em um tempo em que o caminho natural das jovens era estudar para ser professora ou contabilista, a adolescente Carmen Lapenda, nascida e criada na cidade de Nazaré da Mata, optou por fazer o “curso clássico”, trajetória dos que desejavam cursar Direito. Daí para sua chegada à JT, em 1973, como servidora, foi quase “um pulo”. Um novo “salto”, em 1987, já com a pequena Necy, ao ingressar na Magistratura, carreira que abraçou por mais de 20 anos e que, atualmente, a sua Necy abraça. Veja como ela narra essa história.
Escolha
“Pois é, porque escolhi o Direito como norte na minha vida. Nascida e criada numa cidade do interior, Nazaré da Mata. Estudei até o ginásio no colégio Santa Cristina das Damas da Instrução Cristã. Naquela época a escolha das adolescentes era: ser professora ou fazer contabilidade.
Acontece que, para desgosto de minha mãe, desde que fiz a quinta série, escolhi fazer o curso clássico (na época para quem queria fazer Direito). Decidi que ou fazia o clássico ou deixava de estudar. Meu pai me entendeu, e lá fomos para Recife estudar, finalmente no Damas fazendo o Clássico. O motivo para essa escolha talvez tenha sido o de morar numa rua onde o Fórum da cidade ficava bem em frente e os Júris na época eram emocionantes”.
Decisão
“Depois que me formei em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, a famosa Casa de Tobias, ainda advoguei por dois anos, mas não gostei. Fiz concurso para funcionária da Justiça do Trabalho em 1973. Trabalhei como Diretora de Secretaria por alguns anos. De repente, decidi que queria ser Juíza. Trabalhei com Dr. Josias Figueiredo e via a dedicação e empenho que ele dedicava ao seu trabalho. Acho que ele foi para mim uma inspiração.
Fiz concurso em 1987 e tomei posse em 1988. Na época que estudava para o concurso Necy ainda era pequena e teve sua vida um pouco perturbada, pois durante o período que estudei não pude dar muita atenção a ela, já que éramos só nós”.
Alegria
“Ser Juíza e ter uma filha Juíza. Para mim foi a maior alegria. Resta enfatizar que nunca influenciei Necy as suas escolhas, sempre entendi que a pessoa deve amar aquilo que faz. Necy sempre foi muito estudiosa. Ela escolheu fazer Direito, fazer concurso para funcionária do TRT6 e também, ela escolheu ser Juíza do Trabalho.
Sempre mantivemos nosso relacionamento à parte do que fazíamos profissionalmente, eu tinha meus entendimentos e ela os dela. A independência e liberdade de escolhas sempre foi o passo a passo de nossas vidas”.
Orgulho
“É um orgulho imenso ter uma filha que, quando olho para trás, vejo que trilhou os mesmos caminhos que eu: estudar Direito, ser funcionária e depois Juíza de uma instituição que amo de paixão. E muito orgulho também pela Juíza que ela é, competente, bom relacionada com os colegas e respeitada pelos advogados e jurisdicionados.
Considero a Justiça do Trabalho importante e essencial para o equilíbrio entre a força trabalhadora. Sem ela seria impossível solucionar conflitos e manter a paz com a garantia de que os excessos sejam eliminados!”
Vidas
“Tenho uma neta. E se ela quiser ingressar na Magistratura? Primeiro de tudo ficaria muito feliz e diria a ela que sempre procurasse encarar um processo como uma representação de vidas, pessoas. Cada pasta digital (hoje é assim, no meu tempo, físico) traz sentimentos, dores e decepções, e cabe ao Juiz na sua análise trazer a solução para aquele conflito”.
Amor
“O sentimento que tenho hoje é o de que me aposentei, mas deixei uma parte minha num lugar que amo”.