Ansiedade: uma doença global que tem prevenção

A ansiedade é um problema de saúde pública em todo o mundo, com mais de 300 milhões de pessoas relatando o problema, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). No Brasil, afeta quase 10% da população, atingindo jovens, adultos e idosos, com impactos na qualidade de vida até mesmo da família e de amigos. O psiquiatra Vitor Hugo Stangler, do Hospital Jayme da Fonte, no Recife, professor de psiquiatria da Pós-graduação e especialização da UFPE, avalia que é preciso estar atento quando os sinais aparecem e focar na prevenção do adoecimento mental, com mudanças no estilo de vida, por exemplo. Confira a entrevista:

Isto Posto (IP) – O que são as ansiedades?

Vítor Hugo Stangler (Vítor) – Ansiedade é uma reação emocional natural do nosso corpo, relacionada à preocupação e ao medo, em reação à estímulos potencialmente perigosos. Essa reação está presente em todos os seres humanos e é importante para nós prepararmos contra esses estímulos, e se apresenta através de preocupações e medos.

IP – Se é algo normal, natural, porque há o adoecimento?

Vítor – Existe uma diferença importante entre a ansiedade "normal" e a ansiedade patológica (ou transtornos ansiosos). Essa reação natural do nosso corpo se torna um problema quando começa a se apresentar de maneira excessiva, a estímulos diversos e não perigosos, causando um sofrimento e/ou até um prejuízo nas diversas esferas da vida (social, laboral, etc).

IP – Quando se preocupar?

Vítor –A preocupação, quanto aos sintomas de ansiedade, deve existir quando é percebido um prejuízo funcional importante ou um sofrimento clinicamente significativo. Independentemente do nível de ansiedade, se esses dois sintomas estiverem presentes, devemos começar a nos questionar acerca do nosso estilo de vida, se pode estar contribuindo para esse sofrimento, e até buscar ajuda para conseguir aliviar esses sentimentos

IP – Quais os sintomas de um quadro de ansiedade?

Vítor – Os sintomas de ansiedade podem envolver duas esferas, a psíquica (sintomas mentais) e a somática (sintomas físicos). Dentre os diversos sintomas da esfera psíquica os mais frequentes são medo intenso, insegurança constante, preocupações em excesso, pensamentos voltados ao futuro e em geral de forma catastrófica e dificuldade para parar de pensar (ruminações ansiosas) e para dormir. Já dos sintomas físicos os mais frequentes são falta de ar, boca seca, taquicardia, tontura, formigamentos, aperto no peito, entre outros.

IP – Como ajudar alguém com sinais de ansiedade?

Vítor – Devemos estar alerta no nosso ciclo de amigos, familiares para as questões envolvendo a saúde mental. Em qualquer situação, estabeleça o diálogo, converse, apoie e oriente para que procure um profissional com rapidez.

IP – Porque esse problema está avançando no mundo atual?

Vítor –Fato verdadeiro é que temos visto o aumento na prevalência e incidência de transtornos ansiosos no mundo moderno. Sabe-se que o estilo de vida atual tem contribuído bastante para o aumento desses sintomas. Vivemos cada vez mais cheios de tarefas, cobranças e demandas, e nosso tempo para realizar nosso autocuidado é cada vez menor. A saúde, atividades físicas e sono são negligenciados em virtude desses excessos de demandas que temos nos dias de hoje.

IP – Há diferença entre homens e mulheres?

Vítor –Existem diferenças significativa entre a prevalência de ansiedade nas mulheres e nos homens. Chegando a atingir cerca de 27% nas mulheres e 14% nos homens. Esses dados acabam sendo um pouco falseados pois os homens são mais resistentes a buscar acompanhamento e falar sobre seus problemas.

IP – Como diagnosticar corretamente?

Vítor –Para o diagnóstico adequado do tipo de transtornos ansioso e um correto tratamento é importante que o indivíduo que já apresente sintomas, busque a avaliação com um profissional de saúde mental (psiquiatra, psicólogo).

IP – Há um tratamento eficaz e permanente?

Vítor –Hoje em dia existem avanços importantes dentro do tratamento medicamentoso dos transtornos ansiosos, desde a fase aguda, quando o paciente apresenta sintomas ansiosos; bem como na etapa que chamamos de manutenção, após a melhora dos sintomas – que podem variar de 6 meses a um ano - visando evitar recaídas e recorrências, tendo como meta a retirada da medicação após esse período.

IP – Além de medicações, é necessário algo mais?

Vítor – Mesmo com o tratamento medicamentoso é muito importante entender os hábitos de vida e trabalhar essas práticas, visando reduzir fatores estressores, com o suporte da psicoterapia.

IP – É possível prevenir?

Vítor – Sabe-se hoje que existem diversas formas de trabalhar a prevenção do adoecimento mental como um todo e principalmente dos transtornos ansiosos. Uma das principais formas de prevenção são as mudanças no estilo de vida: melhora do sono, da alimentação e a realização de atividades físicas em rotina. Ainda, melhor adaptação e diminuição de momentos estressantes em rotina, com inclusão de atividades de lazer diariamente, práticas de relaxamento e entre outros. Essas mudanças do estilo de vida podem auxiliar tanto no tratamento como na prevenção de quadros ansiosos.

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